Não há opções: Ou é proveniente de Deus e não do servo, e assim Deus não poderá mais culpar e julgar o servo pelo que não praticou ou é proveniente dos dois, do servo e de Deus ao mesmo tempo, e assim Deus seria o Deus mais forte que não deveria culpar o mais fraco pelo seu pecado, ou seja, é na verdade proveniente do servo e não de Deus, o qual se quiser pode perdoar ou pode castigar
Deus nos concedeu a capacidade e o poder, nos concedeu a razão e a inteligência, e estas são todas dádivas que não são interrompidas por Deus o Altíssimo, e se fossem interrompidas por um único instante teríamos se acabado no mesmo instante.
Se nós temos a capacidade de fazer algo é porque este poder foi concedido por Deus à nós, e a concessão é continua, sem ser interrompida por um instante sequer. Na verdade, a liberdade
da nossa escolha também é Dele, isso signif i ca que foi Ele quem quis que nós fôssemos livres em nossas escolhas para podermos dar continuidade a nossa jornada rumo a perfeição por meio destas dádivas divinas. E com base nisso, ao mesmo tempo que nós temos a liberdade de escolha e prática sempre dependeremos do poder divino e jamais podemos abdicar dele.
Naquele instante da capacidade e do poder nós sempre estaremos ligados a Deus o Altíssimo, e jamais seremos algo sem Ele. Isso é o significado do ponto intermediário. E com isso não somos politeístas e ao mesmo tempo não consideramos os servos de Deus obrigados a praticar suas ações, sendo portanto injustiçados se assim fosse.
Isso é o que aprendemos com a escola dos Ahlul Bait (que a paz esteja com ele e sua família purificada), pois quando eles eram questionados pelas pessoas sobre se havia um caminho entre Jabr e Tafwidh (obrigatoriedade e delegação) eles respondiam que sim, o caminho era tão amplo como a distância entre o céu e a Terra.
Narra-se que Abu Hanifa viajou até Medina para debater com o Imam Jafar Assadeq (que a paz esteja com ele) sobre algumas questões, e quando chegou na cidade foi até a casa do Imam (que a paz esteja com ele) e sentou-se na entrada da casa aguardando a licença para entrar. Enquanto estava ali sentado um menino apareceu, e então, Abu Hanifa lhe perguntou onde alguém poderia fazer suas necessidades na cidade. O menino olhou para ele e respondeu: Evite a beira dos rios e as árvores frutíferas, as proximidades da mesquitas e a beira dos caminhos e estradas.
Vá sempre atrás das paredes, e nunca na direção de Meca ou de costas para ela, e então pode fazer onde quiser”.
Abu Hanifa ficou impressionado e maravilhado com a precisão da resposta daquele menino, pois não imaginava que um menino poderia ter uma resposta tão completa e sábia como aquela. Então, Abu Hanifa lhe perguntou: Qual é seu nome?
O menino respondeu: “Mousa ibn Jafar ibn Mohammad ibn Ali ibnol Hussein ibn Ali ibn abi Taleb”.
Quando Abu Hanifa soube da descendência daquele menino, um descendente da linhagem da profecia e do Imamato, lhe adiantou a pergunta que iria fazer ao Imam Assadeq (que a paz esteja com ele), dizendo: Ó garoto, de quem é o pecado? É de Deus ou do servo?”
Então, o garoto lhe respondeu: “Não há opções: Ou é proveniente de Deus e não do servo, e assim Deus não poderá mais culpar e julgar o servo pelo que não praticou ou é proveniente dos dois, do servo e de Deus ao mesmo tempo, e assim Deus seria o Deus mais forte que não deveria culpar o mais fraco pelo seu pecado, ou seja, é na verdade proveniente do servo e não de Deus, o qual se quiser pode perdoar ou pode castigar...”.
Significa que se ele quiser ele perdoará por sua piedade ou pode castigar com base em sua justiça. Então, Abu Hanifa disse:
Já é o suficiente. E daí saiu sem se encontrar e perguntar nada ao Imam Assadeq (que a paz esteja com ele), o pai do garoto.
A justiça - Asseyd Charif Sayed Ameli. P.28-30