Nahjul Balagha Sermão nº 193

13:34 - 2021/11/07

-A clássica seleção de sermões, cartas e ditos do Imam Ali ibn abi Taleb (que a paz esteja com ele), o Príncipe dos Fiéis, compilada pelo grande sábio Sharif al-Radhi. Esta obra é a segunda mais importante na literatura ética-moral islâmica, ficando atrás apenas do Alcorão Sagrado, e é um retrato fiel do caráter, eloquência e grandiosidade do Imam Ali (que a paz esteja com ele).

Nahjul Balagha Sermão nº 193

Descreve nele os tementes a Deus
É relatado que um companheiro de Amirul Muminin (as), chamado Hamam, que era um homem devotado a adoração disse a ele:
“Ó! Amirul Mumini (as), descreve para mim os religiosos, de maneira que eu os possa distinguir." Amirul Muminin (as) evitou responder, mas (por fim) disse; “Ó! Hamam, teme a Deus e prática as boas ações, porque Deus está com aqueles que o teme e que praticam boas ações."
Hamam não ficou satisfeito e insistiu em que ele falasse. Então Amirul Muminin(as) louvou a Deus e o exaltou, pediu a benção sobre o Profeta (saas) e disse:
"Então, quando Deus, o Glorificado, o Sublime, elaborou a criação, o fez sem nenhuma necessidade de obediência, estando a salvo do pecado, porque o pecado de alguém que peca não lhe afeta, tampouco a obediência o beneficia. ELE distribuiu entre os humanos o seu sustento e lhes assinalou os seus quinhões neste mundo. Assim o temor a Deus constitui a distinção das pessoas. Sua fala é específica, seu vestir é moderado e seu maneirismo é de humildade. Mantém os olhos fechados quanto aquilo que deus lhe tornou ilícito e ouvem o que lhes é benéfico. Permanecem, durante as provações tal qual na bonança. Se não tivesse havido períodos (de vida) fixados, ordenados para cada um, seus espíritos não teriam permanecido nos seus corpos, nem por um piscar de olhos por causa da ânsia pela recompensa e pelo medo do castigo. A grandiosidade do Criador está firmada em seus corações, assim, tudo o mais aparenta pequeno aos seus olhos. Então, é como se tivessem visto o Paraíso e estivessem gozando seus prazeres. É como se tivessem visto o inferno e estivessem sofrendo o seu tormento. Seus corações estão aflitos, protegidos contra os males, seus corpos são esquálidos e suas almas são castas. Suportaram (as agruras) por um certo tempo, sendo que têm assegurado o conforto por um longo tempo. Isso constitui uma benéfica transação, a qual Deus lhes tornou fácil.

O mundo os teve como mira, mas eles não tiveram o mundo como tal.
Ele os capturou, mas viram-se livres dele por resgate. Durante a noite ficam de pé e eretos, recitando partes do Alcorão, recitando-o debilmente, criando por isso, agruras para si mesmos e buscando por isso, a cura para os seus males. Caso se deparam com um versículo que (lhes) desperte a avidez (para o paraíso), curvam-se ansiosamente para ele, e seus espíritos se voltam sofregamente em sua direção e se sentem como se estivesse diante deles. E quando se deparam com um versículo que contenha o medo (do inferno), curvam os ouvidos do coração para ele e se sentem como se o ruído do inferno, com seus berros e lamentos, lhes estivessem atingindo a audição. Curvam as costas, prostram-se, com a testa e mãos, joelhos e artelhos no solo e imploram a Deus por seu livramento.
Durante o dia encontram-se aprendendo, resignados, virtuosos e tementes a Deus. O temor os tornou magro feito flechas. Se alguém olhar para eles, crerá que estão doentes, mas (constatando que) não estão, dirão que enlouqueceram.
Em verdade, a grande preocupação os tornou (como) loucos. Não estão satisfeitos com as suas pequenas ações e não consideram grandes as suas grandes ações. Sempre se culpam e tem medo dos seus feitos.
Quando alguém enaltece algum deles, este diz:"eu me conheço melhor do que os outros (me conhecem) e meu Deus me conhece melhor do que eu próprio. Ó! Deus meu não me condene pelo que dizem (de mim), o que não me faz melhor do que pensam que eu seja, e me perdoe do que eles não sabem."
A peculiaridade de qualquer um deles, como vereis, é que possui firmeza na religião, determinação acompanhada de abnegação, fé com muita convicção, ânsia quanto ao conhecimento, moderação na riqueza, devoção na adoração, gratidão na necessidade, resignação no sofrimento, assiduidade na busca do que é lícito, prazer na diretriz e ódio da ganância. Realiza atos virtuosos mas, ainda assim, sente medo. Ao entardecer, está ansioso por dar graças (a Deus). Pela manhã, sua ansiedade é para com o lembrar-se (de Deus). Passa a noite em temor e se levanta pela manhã com alegria - temor que a noite seja de esquecimento e alegria pelos favores por ele recebidos. Se o seu eu se recusa a suportar algo de que não goste, ele não se curva á demanda daquilo que gosta. O sossego do seu olhar se dirige para aquilo que é duradouro, ao passo que das coisas (do mundo) que são efêmeras, se mantém afastado. Ele mescla conhecimento com indulgência e palavra com ação. Veríeis os seus desejos restritos, as poucas carências, o coração temeroso, o contentamento de espírito, a refeição minguada e simples, a fé segura, as ambições aniquiladas e a ira suprimida.
Dele tão somente o bem é esperado. O mal, vindo dele, não é para ser temido. Mesmo que seja encontrado entre aqueles que se esquecem (de Deus) é contado entre os que se lembram; mas se estiver entre os que se lembram, não será contado entre os que se esquecem. Perdoa aquele que é injusto com ele e dá a quem lhe priva (de algo). Comporta-se bem com quem mal se comporta com ele. O falar indecente está longe dele, sua locução é calma, os males provindo dele são inexistentes, suas virtudes estão sempre presentes, o bem provindo dele é avançado e a maldade se retrai (quanto a ele). Dignificai-se diante as calamidades, tem paciência nos dissabores e agradece durante a tranqüilidade. Não pratica excessos com relação a quem odeia e não comete pecado para o bem de quem ama. Admite a verdade antes mesmo que a evidência seja apresentada contra ele. Não se apropria indevidamente daquilo que lhe é posto sob custódia e não se esquece do lhe é pedido que se lembre.
Não xinga as pessoas, não causa danos a seu próximo, não se regozija com o mal dos outros, não participa do que é errado e não e retira do que é certo. Se está silencioso, seu silêncio não o amofina; se ri, não gargalha e se for vítima de erro, resigna-se até que Deus o vingue.
Seu próprio ego encontra-se em desespero por sua própria causa enquanto as pessoas estão tranqüilas quanto a ele. Coloca-se em amargura para o benefício da outra vida e faz com que as pessoas se sintam seguras com ele. O seu afastamento dos outros acontece em virtude do ascetismo e da purificação e a sua proximidade é em virtude da bondade e misericórdia. Seu afastamento não se dá em virtude da vaidade ou do sentimento de grandeza, tampouco sua proximidade é em virtude do engodo ou da trapaça."
É relatado que Hamam caiu num profundo desmaio e então expirou.
Amirul Muminin(as) disse:"Por Deus, eu temia isso quanto a ele." E em seguida adicionou:"Conselhos eficientes podem produzir tal efeito nas entes receptivas".
Alguém lhe perguntou: "Ó! Amirul Muminin(as) , como tal coisa não te atinge?"
Amirul Muminin(as) replicou:"Maldito sejas! A hora da morte está fixada e não pode ser antecipada e é uma causa que não pode ser mudada. Então, escuta, nunca mais repitas tal fala que Satã colocou na tu bocas! "

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