O procedimento da designação de um sucessor do profeta II

14:27 - 2022/07/06

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designação de um sucessor do profeta

B - Se o Profeta (S.A.A.S.) tivesse realmente decidido confiar a responsabilidade de prosseguir com a ação islâmica de transição à geração de vanguarda, que incluía os Mohajerin e os Ançar dentre os Companheiros, se tivesse se visto obrigado a mobilizar intensamente esta geração, sobre os planos missionário e intelectual, com o fim de que esta viesse a possuir com profundidade a teoria (Islâmica), e em seguida traduzi-la à prática de maneira consciente, encontrando soluções em conformidade com a Mensagem, para os diferentes problemas que surgiriam continuamente ao Movimento, tal ação de mobilização intensiva e geral, teria sido tão indispensável. O Profeta (S.A.A.S.), que havia antecipado a queda de Ciro e de César, sabia perfeitamente que grandes conquistas aguardavam o Chamado Islâmico, que a Comunidade Islâmica deveria, portanto, preparar-se para assumir a responsabilidade de levar o Islam aos povos conquistados, e de tomar precauções contra os perigos desta expansão para o mundo, aplicando as prescrições da legislação Islâmica nos países conquistados e entre seus povos. Pois, bem! Ainda que a geração de vanguarda tenha sido a mais honesta de todas que tenham herdado sucessivamente o Chamado Islâmico depois dela, não se distingue nela os reflexos desta preparação especial suscetível de torná-la apta a assumir a responsabilidade do Chamado e a assimilação profunda de seus conceitos.

 Neste sentido, observamos que a totalidade das tradições proféticas concernentes ao domínio da legislação, não passa de algumas centenas, enquanto o número de Companheiros era, segundo os livros de história, por volta de 12 000, os quais conviviam dia e noite com o Profeta (S.A.A.S.) num mesmo país, e numa mesma mesquita. Quando se comparam estas duas cifras, podem se ver indícios de uma preparação especial com a intenção de dirigir um poder islâmico?

Nota: Uma tradição profética é qualquer dito pronunciado pelo Profeta (S.A.A.S.) diante dos fieis, os quais o memorizam e servem-se dele como regra de conduta. Por conseguinte, se o Profeta (S.A.A.S.) houvesse efetivamente dirigido uma campanha de formação e informação com vista a preparar aos 12.000 companheiros a assumirem a responsabilidade de dirigir um Estado Islâmico, haveria de ter se referido seguramente sobre a legislação Islâmica concernente ao Governo, de modo mais extenso do que nos deixam pensar as poucas centenas de relatos em questão, haveria muito mais palavras do Profeta (S.A.A.S.), em virtude da importância do tema, do grande número de Companheiros suscetíveis de memorizar estas palavras e do número de horas que o Profeta (S.A.A.S.) passava com eles.

Tomemos outro exemplo que sirva igualmente para corroborar nossa afirmação da inexistência de tal preparação. Sabe-se de fato, que os Companheiros evitavam tomar a iniciativa de apresentar questões ao Profeta (S.A.A.S.), ao ponto de que alguns deles, quando tinham algo a perguntar, preferiam a vinda de um visitante (um beduíno que viesse de fora em visita à cidade) com a esperança de que este levantasse a questão da qual eles mesmos queriam conhecer a resposta. Eles consideravam algo supérfluo, que deveria se evitar, levantar questões sobre os estatutos de problemas que ainda não existiam. Disso dão testemunho estas resoluções que Omar pronunciou em seu púlpito:

 “Por Deus, proíbo que um homem levante questões sobre aquilo que não existe, pois, o Profeta explicou o que existe” (al-Darami, 1, p.50).

 E também: “Não e permitido levantar questões sobre o que não aconteceu. Deus tomou sua decisão acerca daquilo que é (que existe)”.
Ibn Omar respondeu a um homem que tinha vindo apresentar uma questão sobre um determinado problema: “Não levante questões sobre aquilo que não tenha chegado, pois, eu ouvi a Omar ibn alKhattab amaldiçoar aquele que levanta questões sobre aquilo que ainda não aconteceu” (al-Darami, 1, p.50).

Da mesma maneira, quando alguém interrogou a Abu bin Kaab sobre um assunto, este lhe respondeu: “O problema sobre o qual tu me questionas, já ocorreu?” “Não”, disse o interlocutor. “Espera então até que ocorra” (Sunan al-Darami, 1, 56).
Um dia, quando Omar lia o Alcorão, se deteve neste versículo: “E fizemos surgir cereais, videiras e legumes, oliveiras e palmeiras, jardins frondosos e pastos...” E perguntando a si mesmo: “Bem, compreendemos tudo isso, porém, o que quer dizer “pastos”? E disse: “Por Deus, que este é um esforço inútil. Se não sabeis o que quer dizer “pastos” isso não é grave. Busca o que Deus explicou no Livro e siga. Quanto ao que é desconhecido, confia a Deus.”

Todos esses exemplos mostram, por conseguinte, que existia entre os Companheiros uma tendência a não levantar questões senão dentro do limite dos problemas efetivamente precisos e pontuais. E foi esta tendência a causa do limitado número de tradições que relataram do Profeta(S.A.A.S.), referentes a Legislação, e a razão pela qual os Muçulmanos têm recorrido a fontes de legislação à parte do Alcorão Sagrado e da Tradição Profética, tais como o “Istihsan” (Juízo Prudente), o “Qiyas” (Analogia) e muitos outros tipos de Ijtihad, nos quais desempenha um papel determinante o elemento pessoal do Mujtahid (Jurista), o que conduziu à infiltração da personalidade do homem, de seus gostos e concepções particulares, na legislação. Essa tendência era contrária a uma preparação missionária especial, que necessitava de uma grande ação de formação cultural e de uma tomada de consciência dos problemas que não tardariam a se afigurar e para os quais esta deveria encontrar soluções em conformidade com a Lei Islâmica. Do mesmo modo que os Companheiros evitaram interrogar o Profeta (S.A.A.S.) por sua própria iniciativa, também se omitiram de tomar nota de suas palavras e de sua tradição, embora esta constituísse a segunda fonte da Legislação Islâmica e o ato de registrá-la seria o único meio de conservá-la e imunizá-la contra os riscos da perda e adulteração.

 A propósito disso, al-Hariwi, citando em seu “Tham Al Kalam” a Iahya ibn Saad, relatou este testemunho de Abdullah ibn Dinar: “Nem os Companheiros, nem os que os seguiram, tomaram notas das tradições do profeta. Se contentaram em aprendê-las oralmente, e memorizá-las.” Segundo o “Tabaqat” de Ibn Saad, o segundo Califa meditara durante um mês sobre a melhor decisão, ou atitude, a tomar a respeito da Tradição do Profeta (S.A.A.S.). Ele determinou proibir que fosse posta por escrito. Daí o resultado que esta tradição, a referência mais importante do Islam depois do Alcorão Sagrado, permaneceu durante 250 anos a mercê do destino, ameaçada pelo esquecimento e desvio, através da morte dos memorizadores.

Dito isto, como se pode, conceber por um instante, que os partidários desta tendência ingênua (se é que realmente se tratava de ingenuidade), que desdenhavam levantar questões sobre um problema antes que este efetivamente surgisse, e que se negavam a registrar por escrito a tradição do Profeta (S.A.A.S.) uma vez decretada, estivessem prontos para dirigir a Nova Mensagem, durante a etapa mais importante e mais difícil de sua longa marcha? Pior que isso, como se pode imaginar que o Profeta (S.A.A.S) tenha deixado sua tradição dispersa, sem forma escrita ou nenhuma precisão, sendo que ordenara a seus fiéis que se apegassem a ela? Se se preparava verdadeiramente os Muçulmanos para a idéia de Consenso não teria sido necessário fixar a constituição do consenso, e precisar sua tradição, a fim de que o consenso seguisse uma direção concreta e determinada, protegida dos caprichos pessoais?

 

 

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