A única explicação racional para a atitude do Profeta (S.A.A.S.), não é a de que havia preparado ao Imam Ali (A.S.) para que fosse a autoridade máxima e o líder da experiência Islâmica depois dele, ensinando-lhe “os mil capítulos do saber” e confiando-lhe a integridade de sua tradição? Posto que a única exceção à regra dominante ou à tendência dominante (a que se omitia de registrar por escrito as tradições proféticas) se encontrava personificada nos Ahlul Bait (A.S.). Com efeito, segundo os relatos referidos aos Imames dos Ahlul Bait (A.S.), eles se aplicaram desde o princípio a registrar por escrito todas as tradições proféticas. Eles haviam conservado, segundo estes relatos, um volumoso livro que continha toda a Tradição (costumes jurídicos e religiosos) profética, ditada pelo Mensageiro (S.A.A.S.) e redigida pelo próprio punho de Imam Ali ibn Abi Talib (A.S.).
Os fatos ocorridos depois da morte do Profeta (S.A.A.S.) têm demonstrado que a geração dos Mohajerin e dos Ançar não possuía instruções precisas a respeito dos muitos problemas que o Chamado Islâmico inevitavelmente encontraria depois do desaparecimento de seu Guia, ao ponto que nem o Califa titular e nem seus conselheiros sabiam exatamente qual era o estatuto jurídico que deveria se aplicar sobre uma grande superfície de territórios conquistados pelo Islam, tampouco se estes deveriam ser repartidos entre os combatentes e converter-se num legado piedoso dos Muçulmanos.
Então, como se pode pensar que o Profeta (S.A.A.S) afirme aos muçulmanos que eles conquistarão os territórios de Ciro e de César, e que confie à geração dos Mohajerin e dos Ançar a tutela do Chamado e a responsabilidade desta conquista, sem informar-lhes sobre o estatuto que deveriam aplicar a esta grande superfície territorial sobre a qual se estenderia o Islam?
E pior que isso, podemos constatar que a geração contemporânea do Profeta (S.A.A.S.) não tinha idéias claras nem precisas, inclusive sobre as questões de ordem religiosa e cultural, como no caso da oração do funeral. Ainda que esta oração constituísse uma prática cultural que o Profeta (S.A.A.S.) levara a cabo centenas de vezes em público e diante das massas que assistiam aos funerais e as orações, muitos Companheiros não pareciam crer na necessidade de conhecê-la em sua forma exata, já que o próprio Mensageiro (S.A.A.S.) a dirigia, e que portanto podiam contentar-se em segui-lo passivamente. A prova é que não tardaram em divergir sobre os detalhes desta oração. Segundo al-Tahawi, citando Ibrahim:
“O Profeta havia entregue sua alma e os Muçulmanos não estavam de acordo sobre o número de Takbir que se devia pronunciar sobre os restos mortais”. Um dizia: “Ouvi que o Mensageiro de Deus fazia sete Takbir’s”, outro afirmava: “Ouvi que o Mensageiro de Deus fazia cinco Takbir’s.” Permaneceram em desacordo até a morte de Abu Bakr. E quando Omar ascendeu ao Califado e constatou este desacordo, se sentiu muito atormentado. Ele convocou alguns companheiros do Mensageiro de Deus (S.A.A.S.) e lhes disse “Vós, companheiros do Mensageiro de Deus, quando caís em desacordo, as pessoas os seguem neste desacordo, e quando se põem em acordo as pessoas também se põem em acordo. Vede pois sobre o que vos pondes de acordo!” Eles então disseram: “Tens toda razão.” (Umdat al Qari, 4, 129)
Isto confirma que os Companheiros contavam amiúde com a pessoa do Profeta (S.A.A.S.), durante a vida deste, e não sentiam necessidade de assimilar os estatutos e conceitos da legislação já que ele próprio se ocupava disso. Se poderá alegar que o retrato dos Companheiros pintado desta maneira (com tudo o que carrega consigo de fatos que demonstram sua incompetência para dirigir a Mensagem), está em contradição com o que todos conhecemos, a saber, que a educação que o Profeta (S.A.A.S.) havia dado aos Companheiros registrou um grande êxito e permitiu que se formasse uma maravilhosa geração missionária.
A geração contemporânea do Profeta (S.A.A.S.) não tinha idéias claras nem precisas, inclusive sobre as questões de ordem religiosa e cultural, como no caso da oração do funeral