COMO SE CONSTITUÍRAM OS XIITAS?I

11:46 - 2022/07/13

Sabendo-se agora como nasceu o Xiismo, resta saber como se constituiu o setor Xiita, e como a Comunidade Islâmica se dividiu. É o que vamos tratar de responder.

COMO SE CONSTITUÍRAM OS XIITAS?

Quando se atenta à primeira fase da vida da Comunidade Islâmica, na época do Profeta (S.A.A.S.), se constata que duas tendências principais e diferentes acompanharam seu nascimento e se manifestaram desde os primeiros anos da Experiência Islâmica. Elas coexistiram dentro do marco da Comunidade Islâmica nascente que o Mensageiro (S.A.A.S.) havia fundado. Esta diferença entre às duas tendências conduziria a uma divisão doutrinária, surgida imediatamente após o falecimento do Profeta (S.A.A.S.), que dividiria a Comunidade Islâmica em dois partidos: um, conduzido pelo poder e convertido, por este fato, em majoritário, outro, excluído do poder e reduzido, portanto, a desempenhar um papel de opositor minoritário no marco geral do Islam. Seria esta minoria que mais tarde foi chamada de “Xiita”.

As duas tendências principais que acompanharam o nascimento da Comunidade Islâmica durante a vida do Profeta (S.A.A.S.) e desde o começo da Experiência Islâmica são:

1- A tendência que crê no culto da religião, em sua arbitragem e na aceitação absoluta do Texto Religioso em todos os aspectos da vida.

2- A tendência que crê que a fé na religião não exige nada do muçulmano senão um culto limitado à certas práticas piedosas e certos aspectos que sobressaem do mistério. Fora deste marco limitado, esta tendência crê na possibilidade do ijtihad (livre) nos demais domínios da vida, por conseguinte na legitimidade de trocar ou modificar o Texto Religioso em seu sentido interpretativo, segundo os interesses do momento e as circunstâncias da situação.

 Ainda que os Companheiros, em sua qualidade de vanguarda piedosa e esclarecida, tenham constituído a melhor e a mais sã semente para o engendramento de uma nação missionária (e isto ao ponto que se pode dizer que a história da humanidade não conheceu uma geração doutrinária mais maravilhosa, mais nobre ou mais pura que do que a que o Profeta (S.A.A.S.) havia forjado), é preciso reconhecer que entre suas fileiras havia uma corrente numerosa (durante a vida do Profeta) que tendia a preferir o ijtihad (o juízo pessoal) na apreciação dos interesses (da Comunidade Islâmica ou do indivíduo crente) e sua dedução das circunstâncias, oposta a outra tendência que acreditava no arbítrio da religião, na necessidade de submeter-se a ela e de observar de forma escrupulosa e absoluta todos seus mandamentos, em todos os domínios da vida. Sem dúvida alguma, um dos fatores da adesão da maioria dos Muçulmanos à primeira corrente reside na tendência natural do homem de obrar segundo o interesse do que ele próprio aprecia, e não conforme a uma decisão cujo sentido não compreende. Esta corrente contava com representantes audazes entre os grandes Companheiros, como Omar ibn al-Khattab, que debatia as decisões do Profeta (A.S.) e se permitia a dar uma opinião pessoal, que nem sempre era de acordo com os mandamentos, convencido de que podia atribuir-se este direito. Notemos, a propósito deste assunto, sua posição contrária a respeito do Tratado de paz de Hudhaibyya, sua atitude para com o Chamado para a Oração (Adhán), do qual suprimiu a fórmula “hayya ‘ala Khair al ‘amal”, e também sua atitude ante o Profeta (S.A.A.S.) quando este instituiu o “Mut’at al Hajj”, como também muitas outras atitudes baseadas no “ijtihad pessoal” que havia adotado.

 As duas correntes estiveram refletidas numa reunião que teve lugar na casa do Mensageiro (S.A.A.S.), quando o mesmo vivia os últimos momentos de sua nobre vida. Al Bukhari, citando a Ibn Abbas em seu “Sahih”, relata o seguinte:
 “Quando o Mensageiro de Deus agonizava em sua casa, na presença de alguns homens, entre os quais se encontrava Omar ibn al Khattab, disse: “Deixai que eu escreva uma carta (testamento) de conduta, a qual impedirá vosso extravio.”
“O Profeta está transtornado pelo sofrimento. Temos o Alcorão. Basta-nos o Livro de Deus” disse Omar dirigindo-se aos ali presentes. Então, uma discussão e um desentendimento irromperam entre os homens. Uns diziam: Deixai que o Profeta vos escreva uma carta que servirá para impedir-vos do extravio depois de sua morte”, outros estavam de acordo com o que Omar havia dito. Quando a discussão e o desentendimento cresceram, o Profeta, angustiado, disse: “Saiam!” (Sahih Bukhari)

Este incidente foi suficientemente revelador para o Profeta (S.A.A.S.) da profundidade do fosso que separava as duas correntes, da profundidade de sua contradição e rivalidade. Pode-se acrescentar a isto, para demonstrar a profundidade destas correntes e sua obstinação, o desacordo ou a discussão que dividiu os Companheiros a propósito da nomeação de Oçama ibn Zaid para o Comando do Exército, nomeação que foi, não obstante, claramente ordenada pelo Profeta (S.A.A.S.), portanto, relevante aos mandamentos. Esta diferença foi tão grave, que o Mensageiro (S.A.A.S.) se viu obrigado a sair, apesar de sua enfermidade, para fazer um discurso público sobre este tema:

 “Ó Povo! Soube que alguns dentre vós puséreis em dúvida a decisão da nomeação de Oçama para o comando, da mesma forma que o fizeram antes pelo comando de seu pai. Todavia, Deus sabe até que ponto o pai era digno deste Comando, de igual mod o o é seu filho, depois dele.”

Estas duas correntes que entraram em conflito durante a vida do Profeta (S.A.A.S.), viriam a refletir sobre a posição dos Muçulmanos com respeito à tese da designação do Imam Ali (A.S.) para a Liderança do Chamado Islâmico após a morte do Profeta (S.A.A.S.). Deste modo, os representantes da corrente do culto aos Mandamentos Proféticos consideravam que lhes impunha como uma obrigação aceitar a dita disposição, não suspendê-la nem alterá-la, enquanto que os defensores da outra corrente pensava que poderiam guardar sua liberdade com respeito a esta disposição se suas deduções pessoais lhes conduzissem a um ponto de vista mais adequado às circunstâncias segundo seus modos de ver.

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