O grande erro na luta contra o terrorismo

09:54 - 2024/05/28

-Como se pode arrasar um país e reduzir suas cidades e aldeias a cinzas, para depois lhes dizer que por favor não se vejam como oprimidos! 
-A família palestina há décadas não está segura nem dentro de sua própria casa contra a máquina de morte e destruição do regime sionista.
-A visão de uma criança morrendo diante dos olhos de seus entes queridos, uma mãe cuja alegria familiar se transforma em luto, um marido que carrega apressadamente o corpo sem vida de sua esposa, ou um espectador que não sabe que em poucos minutos presenciará o último ato da peça de sua vida, não são cenas que não comoveriam as emoções e os sentimentos humanos. 

A MENSAGEM DI IMAM KHAMENEI

Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso

Os trágicos eventos do cego terrorismo na França mais uma vez me motivaram a dialogar com vocês, jovens nos países ocidentais. É lamentável para mim que tais incidentes criem o contexto para esta conversa, mas a realidade é que se questões dolorosas não providenciarem uma base para buscar soluções e uma oportunidade para troca de ideias, o dano será dobrado.

O sofrimento de qualquer ser humano em qualquer parte do mundo é, em si mesmo, angustiante para a humanidade. A visão de uma criança morrendo diante dos olhos de seus entes queridos, uma mãe cuja alegria familiar se transforma em luto, um marido que carrega apressadamente o corpo sem vida de sua esposa, ou um espectador que não sabe que em poucos minutos presenciará o último ato da peça de sua vida, não são cenas que não comoveriam as emoções e os sentimentos humanos.

Qualquer um que tenha experimentado amor e humanidade se entristece e se fere com a visão dessas cenas, seja na França ou na Palestina, no Iraque, no Líbano ou na Síria. Certamente, um bilhão e meio de muçulmanos têm o mesmo sentimento e repudiam os perpetradores e causadores dessas tragédias.

Mas o problema é que, se os sofrimentos de hoje não se tornarem a semente para a construção de um amanhã melhor e mais seguro, eles apenas deixarão amargas e infrutíferas memórias para trás. Eu creio que apenas vocês, jovens, aprendendo as lições dos infortúnios de hoje, serão capazes de encontrar novas maneiras de construir o futuro e se tornar uma barreira aos becos sem saída que levaram o Ocidente ao seu estado atual.

É verdade que o terrorismo é uma dor compartilhada por nós e vocês hoje, mas é importante saber que a insegurança e ansiedade que vocês experimentaram nos eventos recentes difere em dois aspectos principais do sofrimento que o povo do Iraque, Iêmen, Síria e Afeganistão tem enfrentado por muitos anos: primeiro, o mundo islâmico em proporções muito maiores, em escala muito maior e por um período muito mais longo tem sido vítima do terrorismo e violência; e segundo, infelizmente, essas violências sempre foram apoiadas de várias maneiras e de forma eficaz por alguns grandes poderes. Hoje, poucas pessoas desconhecem o papel dos Estados Unidos na criação ou fortalecimento e armamento da Al-Qaeda, Talibã e suas terríveis ramificações.

Ao lado desse apoio direto, os bem conhecidos e explícitos patrocinadores do terrorismo takfiri, apesar de possuírem os sistemas políticos mais atrasados, sempre estiveram entre os aliados ocidentais, enquanto as mais progressistas e iluminadas ideias nascidas das democracias dinâmicas na região foram impiedosamente suprimidas. A abordagem dúbia do Ocidente ao movimento de despertar no mundo islâmico é um exemplo eloquente da contradição nas políticas ocidentais.

Outro aspecto desta contradição é visto no apoio ao terrorismo de Estado de Israel. O sofrido povo da Palestina há mais de sessenta anos que experimenta o pior tipo de terrorismo. Se o povo da Europa agora se abriga em suas casas por alguns dias e evita se aparecer nas reuniões e aglomerações, uma família palestina há décadas não está segura nem dentro de sua própria casa contra a máquina de morte e destruição do regime sionista.

Hoje, que tipo de violência pode ser comparada com as construções de assentamentos do regime sionista em termos de gravidade? Este regime, sem nunca ser seriamente e eficazmente condenado por seus poderosos aliados ou ao menos por instituições internacionais supostamente independentes, demoli diariamente as casas dos palestinos e destrói suas plantações e fazendas, sem sequer dar-lhes a chance de transferir seus pertences ou colher suas safras agrícolas. E tudo isso frequentemente acontece diante dos olhos apavorados e lacrimosos de mulheres e crianças que testemunham seus familiares sendo espancados e em alguns casos levados para centros de tortura.

Você conhece hoje em dia maior atrocidade do que está em termos de escala, dimensão e persistência no tempo? Balar uma mulher na rua apenas por protestar contra um soldado armado até os dentes, se não é terrorismo o que é? Esta barbárie não deveria ser chamada de extremismo quando perpetrada por forças militares de um estado ocupante? Ou talvez estas imagens não deveriam mais comover nossas consciências por terem sido mostradas repetidamente na televisão há sessenta anos?

As invasões nos últimos anos ao mundo islâmico, que em si teve inúmeras vítimas, são outro exemplo da lógica contraditória do Ocidente. Os países invadidos, além das perdas humanas, perderam suas infraestruturas econômicas e industriais, seu movimento em direção ao crescimento e desenvolvimento foi interrompido ou desacelerado, e em alguns casos retrocederam décadas. Apesar disso, descaradamente lhes é pedido que não se vejam como oprimidos. Como se pode arrasar um país e reduzir suas cidades e aldeias a cinzas, para depois lhes dizer que por favor não se vejam como oprimidos! Em vez de convidá-los à ignorância ou ao esquecimento das tragédias, um sincero pedido de desculpas não seria melhor? O sofrimento que o mundo islâmico tem enfrentado nestes anos com a duplicidade e disfarces dos invasores não é menor do que os danos materiais.

Prezados jovens! Eu espero que vocês, agora ou no futuro, mudem esta mentalidade contaminada pela hipocrisia; uma mentalidade cuja especialidade é esconder objetivos distantes e embelezar intenções perniciosas. Na minha opinião, o primeiro passo para criar segurança e paz é reformar esse pensamento gerador de violência. Enquanto padrões duplos dominarem a política ocidental, enquanto o terrorismo, na visão de seus poderosos patrocinadores, for dividido entre as variedades boa e má, e enquanto os interesses dos estados forem preferidos aos valores humanos e éticos, não se deve buscar as raízes da violência em outro lugar.

Infelizmente, essas raízes há anos penetraram gradualmente também nas profundezas das políticas culturais do Ocidente, estruturando uma invasão suave e silenciosa. Muitos países do mundo se orgulham de suas culturas nativas e nacionais, culturas que, apesar de produtivas e criativas, alimentaram bem as sociedades humanas por séculos.

O mundo islâmico não foi exceção. Mas na era moderna, o Ocidente insiste na simulação e homogeneização cultural do mundo, utilizando instrumentos avançados. Eu vejo a imposição da cultura ocidental às outras nações e o desprezo às culturas independentes como uma forma de violência silenciosa e muito prejudicial. O rebaixamento de culturas ricas e a ofensa às suas partes mais respeitadas ocorre enquanto a cultura substituta não tem capacidade alguma de substituição. Por exemplo, os dois elementos "agressividade" e "libertinagem moral", que infelizmente se tornaram componentes principais da cultura ocidental, diminuíram sua aceitabilidade e posição até em sua própria terra natal.

A questão agora é: se não quisermos uma cultura belicosa, vulgar e sem sentido, somos culpados? Se nos opusermos à inundação devastadora que flui em direção aos nossos jovens na forma de variados produtos pseudoculturais, somos responsáveis? Não nego a importância e o valor dos intercâmbios culturais. Sempre que esses vínculos ocorrem em condições naturais e com respeito à sociedade receptora, trouxeram crescimento, desenvolvimento e riqueza. Em contraste, ligações heterogêneas e impostas têm sido mal sucedidas e prejudiciais. Infelizmente, devo dizer que grupos sórdidos como o DAESH são o produto de tais uniões malsucedidas com culturas importadas. Se o problema fosse realmente ideológico, fenômenos semelhantes deveriam ter sido observados no mundo islâmico antes da era colonial, mas a história atesta o contrário.
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Documentos históricos incontestáveis mostram claramente como o encontro do colonialismo com um pensamento radical e marginalizado, ainda por cima dentro de uma tribo beduína, plantou a semente do extremismo nesta região. Caso contrário, como seria possível que uma das mais éticas e humanistas doutrinas religiosas do mundo- cujo texto fundamental considera tirar a vida de um ser humano equivalente a matar toda a humanidade- dessa origem surge algo como o DAESH? Por outro lado, deve-se perguntar por que pessoas nascidas e criadas intelectual e espiritualmente na Europa são atraídas por esses grupos. Pode-se realmente acreditar que indivíduos se tornem extremistas após uma ou duas viagens às zonas de guerra, a ponto de metralhar seus compatriotas? Certamente não se deve esquecer o impacto de décadas de uma dieta cultural insalubre num ambiente contaminado e gerador de violência. É necessária uma análise abrangente desta situação, que detecte as poluições explícitas e ocultas da sociedade. Talvez o profundo ressentimento que foi plantado, durante anos de prosperidade industrial e econômica, no coração de certas camadas das sociedades ocidentais, como resultado de desigualdades e possivelmente discriminações legais e estruturais, tenha criado complexos que periodicamente se manifestam desta forma patológica.

De qualquer forma, cabe a vocês cortar as camadas superficiais de sua sociedade, identificar e remover os nós e ressentimentos. Em vez de aprofundar, é preciso reparar as fraturas. O grande erro na luta contra o terrorismo são as reações apressadas que ampliam as rupturas existentes. Qualquer movimento emocional e apressado que isole ou infunda medo e ansiedade na comunidade muçulmana residente na Europa e América, composta por milhões de indivíduos ativos e responsáveis, privando-os ainda mais de seus direitos fundamentais e afastando-os da cena social, não somente deixará de resolver o problema como também aprofundará as distâncias e ampliará as discordâncias.

Medidas superficiais e reativas – especialmente se obtiverem validade legal – além de abrirem caminho para futuras crises pelo aumento das polarizações atuais, não trarão nenhum outro resultado. Segundo as notícias recebidas, em alguns países europeus, normas foram estabelecidas que instigam os cidadãos a espionar os muçulmanos; esses comportamentos são opressivos e todos sabemos que a opressão tem, inevitavelmente, o efeito bumerangue. Além disso, os muçulmanos não merecem tamanha ingratidão.

O mundo ocidental há séculos conhece bem os muçulmanos; tanto no dia em que os ocidentais foram recebidos como hóspedes em terras do Islã e cobiçaram as riquezas do anfitrião, como no dia em que foram os anfitriões e se beneficiaram do trabalho e pensamento dos muçulmanos, na maioria das vezes não viram nada além de benevolência e paciência. Portanto, peço a vocês, jovens, que com base num entendimento correto e discernimento, tirando lições das experiências desagradáveis, estabeleçam os alicerces de uma interação correta e digna com o mundo islâmico. Dessa forma, em um futuro não muito distante vocês verão que o edifício erguido sobre tais fundamentos estenderá a sombra da confiança e segurança sobre seus arquitetos, presenteará-os com o calor da tranquilidade e paz, e irradiará a luz da esperança num amanhã brilhante sobre a face da Terra.

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