- Existem três caminhos abertos a um comentário sobre o Alcorão. O primeiro, pela utilização do conhecimento que já possuímos. O segundo, com o auxílio dos dizeres do Profeta ou dos Imames. O terceiro, pelo uso de uma combinação dos métodos: por meio da reflexão e da análise, ou deixando que um versículo esclareça outro comparando-os, ou ainda, pelo uso dos dizeres do Profeta e dos Imames, sempre que seja possível.
Três caminhos abertos a um comentário sobre o Alcorão
O terceiro caminho de comentário sobre o Alcorão é a via que o Profeta e os Imames de sua Família indicaram em seus ensinamentos. O Profeta disse que, “Os versículos foram revelados confirmando outros” E o Imam Ali disse, “Uma parte do Alcorão explica outra e uma parte testifica outra”.
Além disso, é óbvio que esse método de comentário difere do método sobre o qual o Profeta alertou, quando disse: “Aquele que tece um comentário sobre o Alcorão de acordo com sua própria opinião prepara um lugar no inferno para si mesmo”. Esse método utiliza o texto alcorânico para explicar o próprio texto e não se baseia numa explicação derivada de capricho ou desejo pessoal.
O primeiro método é inaceitável e exemplifica o comentário baseado em opinião pessoal, exceto nos casos em que esteja de acordo com o terceiro método. O segundo é o que foi usado pelos primeiros eruditos e por muitos séculos seguintes ainda em uso entre eruditos da tradição sunita e xiita. Trata-se de um método limitado, considerando-se a vasta natureza do assunto e o incontável número de questões (gerais e específicas) surgidas sobre mais de seiscentos versículos.
Onde, alguém, pode perguntar, está a resposta para tais questões?
Onde está a solução para tantas questões intrincadas e embaraçosas?
Ou deveríamos recorrer ao conjunto das tradições sobre os versículos?
Não nos esqueçamos que o número total de tradições do Profeta (sobre a matéria) aceitas e transmitidas pelos eruditos sunitas não é mais do que duzentas e cinquenta; devemos lembrar também que muitas delas são fracas e algumas, inteiramente inaceitáveis. É verdade que as tradições do Profeta e dos Imames transmitidas pelos eruditos xiitas chegam a mil e que entre elas encontramos um número considerável de tradições fidedignas.
Contudo, a avaliação dessas tradições não é suficiente, dado o número incontável de questões que surgem e os muitos versículos alcorânicos que não são sequer mencionados no conjunto dessas tradições. Devemos então recorrer em tais questões aos versículos apropriados? Devemos então simplesmente evitar a investigação e supor que a necessidade de conhecimento não exista?
Nesse caso, o que se deve entender com o versículo, “Temos revelado o Livro a ti, que é uma explicação de tudo...” (C.16 – V.89). O qual é uma prova evidente de que o Alcorão não é um mistério, mas que ele explica, entre outras coisas, a si mesmo, com sua própria luz. A sura 4, versículo 82 contém a injunção: “Não meditam, acaso, no Alcorão?” De modo semelhante, nas suras 38, versículo 29: “(Eis) um Livro abençoado, que te revelamos, para que os sensatos recordem seus versículos e neles meditem”. E no capítulo 23, versículo 68: “Porventura, não refletem sobre as palavras, ou lhes chegou algo que não havia chegado a seus antepassados?”
O que esperamos compreender com esses versículos? Como agiremos ao considerar as tradições fidedignas do Profeta e dos Imames que nos aconselham a recorrer ao próprio Alcorão no caso de problemas de interpretação e discordância de opinião? Segundo muitas tradições famosas do Profeta, transmitidas mediante cadeias ininterruptas, uma pessoa tem a obrigação de consultar as tradições com o Livro de Deus; se a tradição estiver de acordo com o Livro, então deve ser aceita e usada no comentário, e se estiver em desacordo, deve ser rejeitada.
É evidente que o sentido dessas tradições é aplicável quando descobrimos por meio da Ciência do Comentário que o significado interior de um versículo esteja contrariando o que outro versículo contém. Nesse caso, a pessoa deve rejeitar o que verificou mediante o estudo dos comentários.
Tais tradições formam a melhor prova de que o Alcorão, como discurso ou texto, possui sentido e sempre possuirá, mesmo quando estudado à parte das tradições. Assim, é dever dos comentadores levar em consideração e refletir sobre as tradições do Profeta e dos Imames respeitantes aos versículos alcorânicos, e somente utilizar as tradições que estejam de acordo com o versículo em exame.
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